quinta-feira, 21 de março de 2013

"Remédio não trata pensamento"

Depois de alguns meses volto a postar textos que espero poder contribuir para o desenvolvimento humano.

Hoje vou repassar um texto que relata uma realidade comum na minha profissão. Geralmente as pessoas acreditam ou querem acreditar que só a medicação resolve. Isto além de perigoso não é verdadeiro quando se trata de questões emocionais e ou práticas.


O texto abaixo é de autoria de Silvia Disitzer, psicanalista e psiquiatra, membro da Escola Letra Freudiana, publicado na revista SimplesMente em janeiro de 2013.

“Remédio não trata pensamento”

“A tarefa clínica nos coloca em contato profundo com o sofrimento do sujeito. Desde o início da minha formação, ainda nos ambulatórios da faculdade de Medicina, me chamava a atenção um fato recorrente: aquilo que era enunciado pelo paciente sobre a sua situação e os seus sintomas tinha mais efeito sobre a evolução de seu quadro do que a informação que recebíamos dos resultados dos exames ou dos procedimentos realizados. Tornou-se evidente que uma escuta atenciosa é fundamental para a melhora clínica, o que me levou posteriormente à psiquiatria e à psicanálise, não necessariamente nesta ordem.

Com os anos, fui percebendo que a diferença entre a prática psiquiátrica e a clínica psicanalítica é abismal. O psiquiatra identifica a doença de seu paciente e acredita saber qual o remédio certo para tratá-la. Já o psicanalista, ao escutar o sujeito, opera sobre matéria bem mais sutil, a cadeia de seus pensamentos, e se coloca a tecer os fios que possam levar seu paciente a tomar as rédeas de sua própria vida.

Seja pela pressão da indústria farmacêutica, seja pela necessidade de criar indivíduos funcionantes, o fato é que a sociedade contemporânea recorre cada vez mais a remédios numa busca rápida e, por vezes, fantasiosa de uma “cura” para a mente. É inquestionável que algumas substâncias psicoativas têm eficácias específicas comprovadas. Os neurolépticos, por exemplo, agem sobre a desordem psicótica aguda e, os antidepressivos, melhoram o ânimo e combatem a irritabilidade.

No entanto, a vivência clínica me leva à constatação de que o pensamento do sujeito é de certa forma “intratável”. A fixidez das ideias na certeza delirante, na persistência dos pensamentos obsessivos e na fantasia histérica ilustra esta observação. É com base nisto que venho consolidando a forte impressão de que remédio não trata pensamento. Que alívio! Afinal, como é possível um medicamento alterar o conteúdo de uma ideia? Como disse Freud: “A ciência moderna ainda não produziu um medicamento tão eficaz como poucas e boas palavras”. Em meio a avanços tecnológicos que criam soluções para quase tudo, é fundamental frisar que a psicanálise continua sendo uma práxis singular, a única efetivamente capaz de tratar e promover alguma pequena e preciosa modificação no campo do pensamento, ou seja, na associação de ideias do sujeito. “

Resumindo, para questões comuns, mas que às vezes, fogem ao controle busque terapia.

Boa semana. Adriana